Junho
de 2006. No discurso daquela tarde em Santo Estevão, no recôncavo baiano, o
então presidente Luiz Inácio Lula da Silva citava o dia anterior e a seleção de
Parreira, devagar na Copa do Mundo. "Precisamos ter um pouco de
paciência", dizia.
O
que engrenava ali era a pré-campanha presidencial. Lula, já mais aliviado do
mensalão, anunciava 3,3 milhões de beneficiários pelo Luz para Todos, programa
pouco conhecido à época mas que começava a mostrar suas garras eleitorais. No
final daquela semana, Lula oficializaria sua postulação à reeleição.
No
palco do ato, em que o presidente reclamava por não poder falar de eleição,
Luiza da Conceição, 48, foi destaque. Era a "camponesa", nas palavras
de Lula, para quem ele "teve o prazer" de "acender o biquinho de
luz" que a levou "ao século 21". Sete anos depois, a lavradora é
só elogios à vida às claras. Os R$ 16 mensais do querosene dos candeeiros hoje
bancam a luz de quatro lâmpadas, geladeira, TV, liquidificador e sanduicheira.
"Pago minha conta com gosto."
Numa
região em que o Bolsa Família é praticamente a única fonte de renda, a tarifa
de energia consome 15% dos R$ 105 mensais que Luiza recebe do benefício. Milho,
feijão e galinhas do quintal dão apenas para a família --marido, dois filhos e
nora.
Até
então, a única luz associada ao povoado do Paiaiá, onde Luiza vive, era a do
incêndio criminoso que no século 19 matou os índios que moravam por lá. A
lavradora passou 40 anos sem energia na localidade de 2.000 pessoas, a 10 km do
centro de Santo Estevão.
"Sem
a luz era horrível. Os meninos chegavam para estudar e o candeeiro sujava os
cadernos. Ninguém sabia o que era um suco. Se fazia, era quente mesmo",
afirma Luiza, geladeira cheia de bebidas de acerola e manga do pé.
A
lembrança de Lula e da visita permanecem para Luiza de forma quase messiânica
("Peço a Deus que ele vai voltar"), mas a presidente Dilma Rousseff é
vista com uma "diferençazinha". "As coisas melhoraram. Só não
mudou mais por causa do custo de vida", diz Luiza.
Na
cidade de 90% sem emprego formal --inclusive o marido de Luiza, carpinteiro
eventual--, a luz já parece não dar conta de todos os problemas. "Na
próxima, se ela [Dilma] entrar, não sei se voto mais não".
Fonte:
www1.folha.uol.com.br,
matéria de João Pedro Pitombo, enviado a
Santo Estevão-BA.
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