Se confirmada a ocorrência de gás de
xisto na grande área do Aquífero Urucuia e usada técnica norte-americana
de extração, poderemos contaminar para sempre a água que bebemos e que usamos
para irrigar alimentos. Seremos ricos em petróleo e gás e importaremos água
para beber de outros estados. A população das chapadas e, de quase toda a Bahia
onde existem reservas de xisto, precisa se engajar nesta luta para obstruir o
possível uso da técnica de fratura hidráulica na extração do gás. O poço de
prospecção instalado na Fazenda Vitória ( veja a foto abaixo), a apenas 10 km
de Luís Eduardo Magalhães, é apenas o início do grande licenciamento que a ANP
quer realizar, em outubro, em todo o País.
Está começando, na Fazenda Vitória, a
10 km do centro de Luís Eduardo Magalhães, a instalação de um poço exploratório
de gás e petróleo em Luís Eduardo Magalhães. Na internet, ambientalistas já
começam a se manifestar sobre o desastre eminente, caso venha a ser encontrado
o gás de xisto e usado o processo de hidro-fragmentação, fratura hidráulica
ou fracking para a coleta do gás, técnica
desenvolvida nos Estados Unidos, que já causa um enorme passivo ambiental.
Segundo relatórios de ambientalistas americanos, o processo leva à poluição de
lençóis freáticos profundos e a água utilizada para o processo de retirada do
gás retorna ao solo altamente poluída, com resquícios de petróleo. Tanto que a
maioria dos estados americanos hesita em liberar a exploração do xisto
betuminoso pelo processo de fragmentação.
O gás de xisto, também conhecido como
shale gás ou gás não convencional, é encontrado em formações sedimentares de
baixa permeabilidade e fica aprisionado, característica que por muito tempo
inviabilizou sua extração, visto que não havia tecnologia capaz de retirá-lo de
dentro das formações de xisto.
Esse paradigma foi quebrado com a
técnica de perfuração horizontal dos poços e o advento do fraturamento
hidráulico. Processo esse que consiste em bombear, sob alta pressão, uma
mistura de água e areia junto com outros produtos químicos no poço a fim de fraturar
as formações de xisto, permitindo a liberação do gás.
Nesta sexta, procuramos a assessoria
de Comunicação da Petrobrás, no Rio de Janeiro, que indicou a assessoria de
Salvador. Que depois de umas 3 horas de silêncio indicou a assessoria de
comunicação da ANP, “por ser área exploratória”. A assessoria da ANP não
respondeu aos nossos questionamentos, via email, e certamente não irá responder
nos próximos dias.
O Aquífero Urucuia em perigo
O Aquífero Urucuia, sobre o qual está
sendo montado o poço exploratório de Luís Eduardo Magalhães, distribui-se pelos
estados da Bahia, Tocantins, Minas Gerais, Piauí, Maranhão e Goiás, onde ocupa
uma área estimada de 120.000 km2. Deste total, cerca de 75-80% estão encravados
na região oeste do Estado da Bahia. Em alguns locais, o grande mar subterrâneo
de água doce e pura, tem espessura ou altura de até 400 metros. Se a exploração
usar efetivamente o processo de hidro-fragmentação, o Aquífero estará
definitivamente comprometido.
Em palavras mais sérias: em pouco
tempo estaremos bebendo água com acentuado gosto de petróleo. E as águas das
veredas, em ponto de afloramento de gás, se incendiarão ao contato de uma
chama.
Veja o que diz o site Carbono Brasil
A fratura hidráulica, ou fracking,
processo que consiste na utilização de água sob altíssima pressão para extração
de gás xisto, está trazendo diversos problemas ambientais para os Estados
Unidos, obtendo a oposição de diversos grupos ambientalistas e da sociedade
civil.
Nesta terça-feira (28), foi
publicado um estudo do Serviço Geológico dos EUA e do Serviço de
Pesca e Vida Selvagem dos EUA que afirma que os fluidos que vazam do processo
estão causando a morte de diversas espécies aquáticas na região de Acorn Fork,
no estado do Kentucky.
Segundo a pesquisa, os fluidos da
fratura hidráulica prejudicam a qualidade da água a ponto de os peixes
desenvolverem lesões nas guelras e sofrerem danos no fígado e no baço. O
fracking também fez com que o pH da água diminuísse de 7,5 para 5,6, o que
significa que água se tornou mais ácida.
Além disso, o processo aumentou a
condutividade da água de 200 para 35 mil microsiemens por centímetro, devido
aos níveis elevados de metais como ferro, alumínio e outros elementos
dissolvidos na água.
Na Califórnia, um desastre
No estado da Califórnia, o fracking
também está trazendo transtorno à população. Tanto que uma coalizão de 100
grupos ambientalistas e da sociedade civil acusa a legislação do processo,
recém aprovada pelo Senado norte-americano, de ser muito fraca, e pede para que
o governador californiano Jerry Brown suspenda a prática imediatamente.
“A verdade é que não há forma
comprovada de proteger a Califórnia do fracking além de proibir essa prática
inerentemente perigosa”, escreveram os grupos em uma carta enviada a Brown. De
acordo com eles, o conjunto de leis “permitiria que as operações de fracking
poluíssem permanentemente grandes quantidades da preciosa água da Califórnia.”
Contudo, o governador acredita que,
se feito com segurança, o processo pode trazer grandes ganhos econômicos para o
estado. “Tenho que equilibrar meu forte compromisso de lidar com as mudanças
climáticas e as energias renováveis com o que pode ser uma oportunidade
econômica fabulosa”, colocou ele. Ainda assim, Brown não tomou uma posição
pública sobre o projeto de lei.
Uma visão gráfica de como se procede
a fratura do solo. Na verdade, os lagos subterrâneos não são como aparecem na
imagem. A água está diluída dentro do arenito, que a absorve como uma esponja.
Blairo Maggi e ANP
O senador Blairo Maggi, em audiência
pública, realizada nesta terça-feira, 27, na Comissão de Meio Ambiente do
Senado, já interpelou a ANP sobre a exploração do gás de xisto.
Diz o Senador: “Acreditando nessas novas
tecnologias, o Brasil está prestes a começar a exploração do gás de xisto. A
Agência Nacional de Petróleo (ANP) marcou para novembro o primeiro leilão de
blocos de gás. No entanto, no país a tal exploração ainda está longe de ser
consenso no que diz respeito a custo benefício”
“Primeiro é preciso ter certeza da
viabilidade econômica da exploração do gás de xisto, já que o sucesso nos
Estados Unidos foi resultado de um forte programa governamental, com muitos
incentivos. As condições objetivas, incluindo tecnologia, infraestrutura de
transporte, mercado consumidor e impactos ambientais, para exploração e consumo
no Brasil, recomendam cautela”, alertou o senador.
O Chefe de Gabinete da ANP, Sílvio
Jablonski, explicou que o gás não convencional não é uma realidade imediata
para o Brasil, mas sim, uma perspectiva para os próximos 10 anos, isso caso se
confirmem as possíveis reservas de xisto.
Pontos de divergências
Impactos ambientais e contaminação de
lençóis freáticos são fontes constantes de atritos entre ambientalistas,
governos e empresas de exploração de gás e petróleo. Blairo Maggi lembrou que
no Brasil duas das maiores concentrações do xisto estão sob grandes reservas de
água. Uma na Bacia do Parecis onde se formam as bacias hidrográficas Amazônica
e Platina, e outra, sob o Aquífero do Guarani.
Para o secretário-executivo de
exploração e produção do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e
Biocombustíveis (IBP), Antônio Guimarães, não há risco de contaminação das
águas, uma vez que os poços de exploração devem ser feitos a uma profundidade
de três mil metros e que seria quase impossível os fluídos do gás escaparem
para a superfície.
“A engenharia é fundamental na
construção dos poços para a proteção dos lençóis freáticos. As normas da ANP
são bastante restritivas, a fiscalização é rígida e as multas são pesadas para
qualquer descumprimento. Preservação, engajamento e
apoio das comunidades devem ser o foco para o sucesso dessa exploração”,
afirmou o secretário.
No entanto, o senador Blairo Maggi
frisou que, apesar do Brasil não poder desconsiderar uma fonte de energia dessa
magnitude, não se pode da mesma forma ignorar a inexistência de estudos
científicos que comprovem a segurança dessa exploração. E, lembrou que o mundo,
hoje, está voltado para a busca de energia limpa.
“É preciso antes comprovar que a
exploração do gás de xisto será satisfatória principalmente à população, ao
meio ambiente e ao Brasil como um todo. Por isso, estamos trazendo à Comissão,
técnicos especializados no assunto para dirimir todas as dúvidas e debater o
tema. Na próxima rodada vamos convidar os órgãos ambientais e ONG’s que atuam
nessa área”, informou o senador.
O mapa do Aquífero Urucuia, 120 mil
km² de água subterrânea contínua, ao lado de outros grandes aquíferos do Oeste
baiano
Fonte: Matéria Publicada originalmente no Blog do jornal O Expresso.
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