domingo, 15 de dezembro de 2013

O FILHO DA CHAPADA QUE FEZ HISTÓRIA NA BAHIA, NO BRASIL E NO MUNDO



Milton Santos 


“Defendeu a igualdade entre os homens, um defensor dos direitos sociais, globais!
Geógrafo e livre pensador brasileiro, homem amoroso, afável, fino, discreto e combativo, dizia que a maior coragem, nos dias atuais, é pensar, coragem que sempre teve. Doutor honoris causa em vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 ( o prêmio Nobel da geografia), professor em diversos países (em função do exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de cerca de 40 livros e membro da Comissão Justiça e Paz de São Paulo, entre outros.”




O Prof. Dr. Milton Santos (Milton Almeida dos Santos ou Milton Almeida Santos),foi um geógrafo brasileiro. Apesar de ter se graduado em Direito, Milton destacou-se por seus trabalhos em diversas áreas da geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos grandes nomes da renovação da geografia no Brasil ocorrida na década de 1970. Milton Santos nasceu no município baiano de Brotas de Macaúbas, Região da Chapada Diamantina, em 3 de maio de 1926. Ainda criança, migrou com sua família para outras cidades baianas, como Ubaitaba, Alcobaça e, posteriormente, Salvador. Em Alcobaça, com os pais e os avós maternos (todos professores primários), foi alfabetizado e aprendeu álgebra (matemática) e a falar francês.
Aos 13 anos, Milton dava aulas de matemática no ginásio em que estudava, o Instituto Baiano de Ensino. Aos 15, passou a lecionar Geografia e, aos 18, prestou vestibular para Direito em Salvador. Enquanto estudante secundário e universitário marcou presença na militância política de esquerda. Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto que fez concurso para professor catedrático no Colégio Municipal de Ilhéus. Nesta cidade, além do magistério desenvolveu atividade jornalística, estreitando sua amizade com políticos de esquerda. Nesta época, escreveu o livro Zona do Cacau, posteriormente incluído na Coleção Brasiliana, já com influência da Escola Regional francesa
Em função de suas atividades políticas junto à esquerda, Milton foi perseguido pelos órgãos de repressão da ditadura militar. Seus aliados e importantes políticos intervieram junto às autoridades militares para negociar sua saída do país, após ter cumprido meio ano de prisão domiciliar. Milton achou que ficaria fora do país por 6 meses, mas acabou ficando 13 anos. Milton começa seu exílio em Toulouse, passando por Bordeaux, até finalmente chegar em Paris em 1968, onde lecionou na Sorbonne, tendo sido diretor de pesquisas de planejamento urbano no prestigiado Iedes.
Permaneceu em Paris até 1971, quando se mudou para o Canadá. Trabalhou na Universidade de Toronto. Foi para os Estados Unidos, com um convite para ser pesquisador no Massachusetts Institute of Technology (MIT), onde trabalha com Noam Chomsky. No MIT trabalha em sua grande obra O Espaço Dividido. Dos EUA viaja para a Venezuela, onde atua como diretor de pesquisa sobre planejamento da urbanização do país para um programa da ONU. Neste país manteve contato com técnicos da Organização dos Estados Americanos. Estes contatos facilitaram sua contratação pela Faculdade de Engenharia de Lima, onde foi contratado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para elaborar um trabalho sobre pobreza urbana na América Latina.
Posteriormente, foi convidado para lecionar no University College de Londres, mas o convite ficou apenas na tentativa, já que lhe impuseram dificuldades raciais. Regressa a Paris, mas é chamado de volta à Venezuela, onde leciona na Faculdade de Economia da Universidade Central. Segue, posteriormente para Tanzânia, onde organiza a pós-graduação em Geografia da Universidade de Dar es Salaam. Permaneceu por dois anos no país, quando recebeu o primeiro convite de uma universidade brasileira, a Universidade de Campinas. Antes disso, regressa à Venezuela, passando antes pela Universidade de Colúmbia de Nova Iorque.

No final de 1976, houve contatos para a contratação de Milton pela universidade brasileira, mas não havia segurança na área política e o contato fracassou. Em 1977, Milton tenta inscrever-se na Universidade da Bahia, mas, por artimanhas político-administrativas, sua inscrição foi cancelada. Ao regressar da Universidade de Colúmbia iria para a Nigéria, mas recusou o convite para aceitar um posto como Consultor de Planejamento do estado de São Paulo e na Emplasa. Esse peregrinar lhe custou muito, mas sua volta representou um enorme esforço de muitos geógrafos, destacando-se Armen Mamigonian, Maria do Carmo Galvão, Bertha Becker e Maria Adélia de Souza. Quanto ao seu regresso, Milton tinha um grande papel nas mudanças estruturais do ensino e da pesquisa em Geografia no Brasil. com o doutorado em Geografia, trabalhou no jornal "A Tarde" e na CPE (Comissão de Planejamento Econômico-BA), precursora da Sudene,
Após seu regresso ao Brasil, lecionou na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) até 1983. Em 1984 foi contratado como professor titular pelo Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP), onde permaneceu mesmo após sua aposentadoria. Também lecionou geografia na Universidade Católica de Salvador. Embora pouco conhecido fora do meio acadêmico, Milton Santos alcançou reconhecimento fora do país, tendo recebido, em 1994, o Prêmio Vautrin Lud (conferido por universidades de 50 países).
Sua obra O espaço dividido, de 1979, é hoje considerado um clássico mundial, onde desenvolve uma teoria sobre o desenvolvimento urbano nos países subdesenvolvidos.
Suas ideias de globalização, esboçadas antes que este conceito ganhasse o mundo, advertia para a possibilidade de gerar o fim da cultura, da produção original do conhecimento - conceitos depois desenvolvidos por outros. Por uma Outra Globalização, livro escrito por Milton Santos dois anos antes de morrer, é referência hoje em cursos de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Traz uma abordagem crítica sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital, apresentado como um pensamento único. Na visão dele, esse processo, da forma como está configurado, transforma o consumo em ideologia de vida, fazendo de cidadãos meros consumidores, massifica e padroniza a cultura e concentra a riqueza nas mãos de poucos. A obra de Milton Santos é inovadora e grandiosa ao abordar o conceito de espaço. De território onde todos se encontram, o espaço, com as novas tecnologias, adquiriu novas características para se tornar um "conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações".
As velhas noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá abranger o planeta inteiro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou possível com o progresso tecnológico. Para contrapor-se à realidade de um mundo movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Santos, a força do lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da globalização. No conceito de espaço, Milton Santos revela a noção de paisagem, onde sua forma está em objetos naturais correlacionados com objetos fabricados pelo homem. Santos aponta que espaço e paisagem não são conceitos dicotômicos, onde os processos de mudança social, econômico e político da sociedade resultam na transformação do espaço, que concatenado a paisagem se adaptam para as novas necessidades do homem naquele dado período. Milton Santos revela o conceito de paisagem como algo não estanque no espaço, e sim que a cada período histórico altera, renova e adapta para atender os novos paradigmas do modo de produção social.


Milton Santos veio a falecer em São Paulo no dia 24 de junho de 2001, aos 75 anos, vítima de um câncer de próstata.

Estas ideias são expostas principalmente em sua obra A Natureza do Espaço (Edusp, 2002).
São ideias apontadas na obra "Pensando o espaço do homem" São Paulo: Hucitec, 1982.

Atividades, prêmios e distinções

Por seus méritos, universidades e instituições ligadas à Geografia passam a outorgar-lhe títulos acadêmicos e honrarias. Os mais importantes são
·       Prêmio Jabuti de Literatura, 1997 - Prêmio pelo melhor livro das Ciências Humanas por A Natureza do Espaço - Técnica e Tempo, Razão e Emoção
·       Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, 1995
·       Homem de Ideias 1998, homenagem do Jornal do Brasil a Milton Santos, em 1998
·       Contemplado em concurso nacional da Revista Isto É como um dos 20 "Cientistas do Século", conforme encarte Especial nº 7, de 4 de agosto de 1999
Milton Santos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pelas seguintes instituições:
·       Universidade de Toulouse, França, 1980
·       Universidade Federal da Bahia, 1986
·       Universidade de Buenos Aires, 1992
·       Universidade Complutense de Madri, 1994
·       Universidade do Sudoeste da Bahia, 1995
·       Universidade Federal de Sergipe, 1995
·       Universidade Estadual do Ceará, 1996
·       Universidade de Passo Fundo, 1996
·       Universidade de Barcelona, 1996
·       Universidade Estadual Paulista, 1997
·       Universidade Nacional de Cuyo, Argentina, 1997
·       Universidade de Brasília,Brasília, 1999
Além da vida acadêmica, Milton Santos desempenhou outras atividades, entre as quais:
·       Presidente ou membro de distinguidas entidades profissionais, como:
·       Consultor de organismos como:

Livros

·       SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira S.A., 1965.
·       SANTOS, Milton. Geografía y economía urbanas en los países subdesarrollados. Barcelona: Oikos-Tau S.A. Ediciones, 1973.
·       SANTOS, Milton. Sociedade e espaco: a formacão social como teoria e como método. Boletim Paulista de Geografia, São Paulo: AGB, 1977, p. 81- 99.
·       SANTOS, Milton. Por uma Geografia nova. São Paulo: Hucitec-Edusp, 1978.
·       SANTOS, Milton. O trabalho do geógrafo no Terceiro Mundo. SP: Hucitec, 1978.
·       SANTOS, Milton. Pobreza urbana. São Paulo/Recife: Hucitec/UFPE/CNPV, 1978.
·       SANTOS, Milton. Economia espacial: críticas e alternativas. SP: Hucitec, 1979.
·       SANTOS, Milton. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1979.
·       SANTOS, Milton. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979 (Coleção Ciências Sociais).
·       SANTOS, Milton. A urbanização desigual. Petrópolis: Vozes, 1980.
·       SANTOS, Milton. Manual de Geografia urbana. São Paulo: Hucitec, 1981.
·       SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. São Paulo: Hucitec, 1982.
·       SANTOS, Milton. Ensaios sobre a urbanização latino-americana. SP: Hucitec, 1982.
·       SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.
·       SANTOS, Milton. O meio técnico-científico e a redefinição da urbanização brasileira. Projeto de pesquisa apresentado ao CNPq, 1986 (datilografado).
·       SANTOS, Milton. Aspectos geográficos do Período Técnico-Científico no estado de São Paulo. Projeto de pesquisa apresentado à Fapesp, maio 1986 (datilografado).
·       SANTOS, Milton. A região concentrada e os circuitos produtivos. Texto apresentado como parte do relatório de pesquisa do projeto O Centro Nacional: Crise Mundial e Redefinição da Região Polarizada, 1986 (datilografado).
·       SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987.
·       SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. Paulo: Hucitec, 1988.
·       SANTOS, Milton. O Período Técnico-Científico e os estudos geográficos: problemas da urbanização brasileira. Projeto de pesquisa apresentado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mar. 1989 (datilografado).
·       SANTOS, Milton. Metrópole corporativa fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo: Nobel/Secretaria de Estado da Cultura, 1990.
·       SANTOS, Milton. A urbanização brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.
·       SANTOS, Milton. Por uma economia política da cidade. SP: Hucitec /Educ, 1994.
·       SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo. São Paulo: Editora Hucitec, 1994.
·       SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia A.(org.). A construção do espaço. São Paulo: Nobel, 1986.
·       SANTOS, Milton. Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal. São Paulo: Editora Record, 2000.

Sobre Milton Santos

·       ELIAS, D. "Milton Santos: a construção da geografia cidadã". In: El ciudadano, la globalización y la geografía. Homenaje a Milton Santos. Scripta Nova. Revista electrónica de geografía y ciencias sociales, Universidad de Barcelona, vol. VI, núm. 124, 30 de septiembre de 2002.http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-124.htm [ISSN: 1138-9788]

 

Referências

1. Ir para cima Site da Associação Brasileira de Mantenedores de Ensino Superior. <http://www.abmes.org.br/miltonsantos/Biografia/index.asp> Acessado em 12 de maio de 2009.
2. Ir para cima Milton Santos. Testamento intelectual. São Paulo: Ed. da Unesp, 2004
3. Ir para cima Milton Santos. O espaço dividido. Os dois circuitos da economia urbana dos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979 (Coleção Ciências Sociais).
4. Ir para cima Luis Lopes Diniz Filho. Fundamentos epistemológicos da geografia. 1. ed. Curitiba: IBPEX, 2009 (Coleção Metodologia do Ensino de História e Geografia, 6), p. 198.
5. Ir para cima Milton Santos. Por uma outra globalização. São Paulo: Record, 2000

Ligações externas

·       Folha Online Brasil
·       Milton Santos
·       Geopesquisa

Fonte publica via internete:


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